Homens e mulheres que estão entre 30 e 49 anos,
dedicam-se à carreira e têm filhos pequenos formam
o grupo mais vulnerável ao stress.
Há dois anos, a vida dos empresários gaúchos Crismeri Corrêa, de 40 anos, e Marcio Silva, de 45 anos, mudou radicalmente. De profissionais bem-sucedidos, focados exclusivamente no trabalho e no casamento, eles acumularam a função de pais das gêmeas Eduarda e Daniela. "A minha prioridade passou a ser o futuro das minhas filhas, o que se tornou uma fonte extra de preocupação", diz a mãe. Ao que o pai faz coro: "Sinto-me mais pressionado para manter a estabilidade financeira e, assim, garantir um futuro tranqüilo para as meninas". Crismeri e Marcio retratam fielmente o resultado de duas pesquisas recém-concluídas sobre o perfil de homens e mulheres mais vulneráveis ao stress. De acordo com levantamentos realizados no Brasil e nos Estados Unidos pelo Instituto Gallup, brasileiros e americanos com idade entre 30 e 49 anos que trabalham e têm filhos pequenos são as grandes vítimas do mal. Nada menos do que 50% da população nessa faixa etária relata estar constantemente sob tensão. O índice supera em cerca de 10% a média geral.
O stress excessivo a que esses homens e mulheres estão submetidos explica-se por uma conjunção de fatores. Com a conquista do mercado de trabalho, a mulher adiou a maternidade para depois dos 30 anos. E não há como negar que a chegada de um bebê é fator de mudanças profundas na vida de um casal. Ou seja, uma fonte de stress para ambos. Além disso, essa fase da vida é a da consolidação da carreira. Portanto, um período de desafios e preocupações. De um lado, está a cobrança em garantir o futuro da prole. De outro, o fato de que manter uma criança pequena custa caro. Um levantamento feito recentemente no Brasil pelo instituto de pesquisas LatinPanel mostra que as famílias com crianças de até 5 anos são as que mais se endividam. Elas gastam, em média, 5% além do que ganham. O dinheiro vai embora em fraldas descartáveis, xampus antilágrimas, papinhas prontas...
Entre homens e mulheres, elas estão com os nervos mais à flor da pele. O índice de brasileiras que se definem como "muito estressadas" é o dobro do de brasileiros. "Elas estão sujeitas a uma avalanche de cobranças: o trabalho, a casa, as crianças, o marido...", afirma a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente do International Stress Management Association-Brasil. "O que gera, na maioria delas, a angústia de não poder dedicar mais tempo ao marido e aos filhos." Nos Estados Unidos e no Brasil, multiplicam-se sites, blogs, livros e até revistas especializadas em tentar aplacar a aflição dessas mulheres. Uma dessas revistas, a americana Working Mother (algo como Mãe Trabalhadora, em português), com tiragem mensal de 850.000 exemplares, traz reportagens como "As 100 melhores empresas para uma mãe trabalhar" ou "Como conciliar o bebê com Wall Street".
O stress é uma resposta do organismo a situações novas, sejam elas boas ou ruins. Nessas ocasiões, há aumento considerável na produção de dois hormônios, o cortisol e a adrenalina, cuja função é, principalmente, deixar o corpo em estado de alerta. Essa capacidade é extremamente útil em situações de perigo e pode ser até positiva, se bem canalizada. Por outro lado, a liberação contínua dessas substâncias é uma ameaça à saúde. O stress constante pode levar a doenças como insônia, fadiga crônica e depressão. "É impossível eliminar o stress da vida moderna", diz a psicóloga Marilda Lipp, professora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e autora de livros sobre o tema. "Por isso, é preciso aprender a lidar com ele." Tudo é uma questão, como cantava Walter Franco, de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo.
Paula Neiva
Fonte:Veja
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