Todos conhecem a importância social e econômica das micro e pequenas empresas (MPE) em nosso país. De acordo com o SEBRAE, 99% das firmas são micro e pequenas empresas e apenas 0.3% são de grande porte (empregando mais de 500 pessoas na indústria ou mais de 100 pessoas nos setores do comércio e serviços). As MPE empregam 14,5 milhões de pessoas, ou seja, 56% do total de empregados no Brasil. O setor que mais emprega é o comércio, com um total de 6 milhões de empregados.
Mas, como andam estas empresas? Em recente artigo publicado na revista Veja, o administrador Stephen Kanitz lembra que a grande maioria das MPE não obtém lucro há mais de 3 anos e de 90% delas não possuem capital, muito menos capital de giro. Kranitz cita um estudo realizado pelo SEBRAE que estima em 31% o número de MPE que quebrarão até 2005 e que 59% fecharão as portas em 2009, sufocadas pela competição externa, juros elevados, impostos excessivos e pela burocracia estatal.
Outro aspecto importante está relacionado com a questão da saúde ocupacional.Envolvido com a sobrevivência da empresa, cumprir a rigorosa legislação trabalhista e as Normas Regulamentadoras (NR) em Segurança e Medicina do Trabalho constitui-se em especial desafio. Este fato torna o pequeno empresário particularmente vulnerável a onerosas demandas na Justiça do Trabalho e problemas relacionados ao absentismo e perda da produtividade dos empregados. Como exemplo, uma dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Saúde Pública da USP, por Letícia Trindade, observou que em pequenas gráficas, materiais altamente inflamáveis, como gasolina ou querosene é utilizado para limpeza das máquinas ou do chão em 63% das empresas.
Neste cenário, como anda a vida deste empresário que, por iniciativa própria ou não, deixou a vida em torno da carteira assinada, arriscando-se em um negócio por conta própria?
Um estudo realizado com profissionais da área de serviços, na cidade de São Paulo, coordenado pela Professora Marilda Lipp, presidente da Associação Brasileira de Stress, mostrou que 40% das pessoas apresentavam sintomas de stress.
Os empreendedores brasileiros, de acordo com o SEBRAE são, em sua maioria, homens e mulheres com idade média de 39 anos, segundo grau completo, ex empregados de empresas privadas. O Global Enterpreurship Monitor (GEM) de 2001 mostrou que as pessoas no Brasil começam a empreender a partir dos 20 anos, pois entram na faculdade muito cedo e não conseguindo oportunidades reais de emprego, muitas vezes acabam abrindo seu próprio negócio.
Recente pesquisa feita pela organização Small Business Initiative, nos Estados Unidos, envolvendo pequenas empresas observou que 64% dos entrevistados tinham empregados doentes em sua força de trabalho. Além disso, relataram que 87% tinham pelo menos um fumante, 73% pelo menos um trabalhador com depressão ou ansiedade e 57% pelo menos um empregado com doença crônica. Os donos de pequenas empresas reconhecem que a má qualidade de vida do empregado afeta a sua produtividade. A pesquisa revelou que 90% dos pequenos empresários acreditam que uma situação de stress do empregado afeta a sua capacidade de trabalhar e 74% relataram ter um trabalho extra porque o empregado ficou doente. Mais de 70% dos entrevistados relataram que os empregados trazem problemas pessoais para o trabalho e mais de 50% relataram que a incapacidade do empregado em resolver seus problemas pessoais pode comprometer a produtividade ou aumentar o risco de acidentes no ambiente de trabalho.
Neste cenário, considerando-se a importância das MPE e as dificuldades vividas pelos empreendedores, inclusive no campo pessoal e familiar, surpreende a pequena importância que o tema tem merecido pelas organizações e universidades. Ao analisarmos as ofertas de cursos, workshops, treinamentos ou a relação de estudos e pesquisas relacionadas a MPE, quase não observa nenhuma referência à questão da saúde e da qualidade de vida do pequeno empresário e seus trabalhadores.
Deste modo, acreditamos ser importante a adoção de estratégias e ações que visem apoiar não somente o negócio do pequeno empreendedor, mas também propiciar instrumentos para que tenha uma melhor qualidade de vida. Seguem algumas idéias e sugestões:
programas e treinamentos especialmente preparados para a abordagem das questões relacionadas ao estilo de vida (tabagismo, sedentarismo, alimentação, stress)
apoio para a abordagem de questões relacionadas a gestão de pessoas (motivação, treinamento, solução de conflitos, clima organizacional, relacionamento interpessoal)
apoio e suporte para questões ligadas a área trabalhista
suporte em situações de stress pós-traumático, particularmente situações de violência (assaltos, seqüestros, etc)
elaboração de programas especialmente modelados para cada tipo de negócio, respeitando a cultura da empresa, avaliar os seus fatores de risco, evitando soluções-padrão ou "de prateleira"
parceria com recursos da comunidade (SESC, SESI, Secretarias da Saúde, programas como Agita São Paulo)
O conhecido administrador Eduardo Bom Ângelo, em seu livro Empreendedor Corporativo afirma que "o importante é a compreensão das pessoas e empresas de que Lennon" vive ", mas um sonho realmente acabou, o de que é possível ser pago sempre pelo mesmo tipo de serviço. Hoje, profissões desapareceram e empresas aparentemente consolidadas fecham as portas. No entanto, há uma luz no fim do túnel para quem souber olhar para o lado certo. Se existe perigo e insegurança, é certo que também se abrem novas oportunidades para quem opta pelo movimento".
Deste modo, concluímos que assume grande importância social e econômica a manutenção da qualidade de vida do micro e pequeno empreendedor, pois as MPE são as principais geradoras de emprego, distribuição de renda e desenvolvimento em nosso país.
FONTE:ABQV
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