quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O bom empregador é aquele que oferece o melhor Botox


A revista "Fortune" publicou recentemente sua nova pesquisa sobre as 100 melhores companhias para se trabalhar nos Estados Unidos. Como eu nunca trabalhei em nenhuma delas, não posso corroborar em primeira mão o ranking- embora em 1981 eu tenha tentado conseguir um emprego no Boston Consulting Group (que ficou em segundo lugar na lista da "Fortune"), mas fui rejeitada depois de ter deixado escapar em uma entrevista que não tinha a menor ideia do que era uma curva de aprendizado.

Uma mensagem postada no site do Boston Consulting Group, a consultoria explica como chegou a ser a segunda melhor companhia para se trabalhar no país. "Uma ênfase no desenvolvimento do funcionário, uma cultura colaborativa, treinamento sistemático, trabalho de alto impacto junto aos clientes, benefícios progressivos e um compromisso com iniciativas de responsabilidade social contribuíram para o forte desempenho", diz a mensagem.

Isso não soa totalmente certo. Não estou certa quanto ao significado de "trabalho de alto impacto junto aos clientes", portanto não entendo como a felicidade dos funcionários depende disso. Tenho certeza do que é "treinamento intensivo"- e estou igualmente certa de que isso está bem no fim da lista daquilo que os profissionais com propósito buscam. Quanto às "iniciativas de responsabilidade social", nunca conheci um consultor especializado em estratégias que pudesse dizer honestamente que essas coisas são o que o mantém no trabalho.

A revista declara que seu ranking é "a mais ampla pesquisa sobre funcionários da América corporativa". De fato, para compilá-la, um número enorme de questionários parece ter sido enviado, exigindo que os funcionários completassem uma "pesquisa de índice de confiança" e que os empregadores conduzissem uma "auditoria de cultura".

Muitas das companhias que se saíram melhor nesse exercício acabaram sendo aquelas que oferecem alguns benefícios bem extravagantes. Uma delas possui uma clínica que oferece aplicação de Botox aos funcionários no horário do almoço. Outra ensina Zumba aos colaboradores, um "exercício de dança à moda latina". Uma terceira oferece instalações para cuidados com animais de estimação e uma quarta disponibiliza seu jatinho corporativo para os funcionários quando alguém da família morre. Uma quinta dá para as funcionárias que não conseguem engravidar US$ 25 mil para que elas possam fazer um tratamento de fertilização "in vitro".

Alguns desses benefícios são mais atraentes que outros. Se um parente meu morresse, não sei se teria disposição para usar um jatinho corporativo. Sou bastante alérgica ao pensamento de me exercitar com dança latina, ao ponto se ser capaz de pagar ao meu empregador para não ter de participar disso.

Mas mesmo que esses benefícios fossem tudo o que eu gostaria, eles não fariam diferença na minha avaliação se meu empregador é bom ou não para mim. Esses benefícios, mesmo os agradáveis, são todos bastante sinistros. É preciso haver uma fronteira entre o empregador e os empregados - entre o lar e o trabalho- e Botox e fertilização in vitro estão no lado errado disso.

O problema com os rankings da "Fortune"- e com todos os outros parecidos- não é o fato deles serem um exercício idiota. Na verdade, eles têm seus méritos. Ajudam potenciais empregados e administradores. O problema é que eles fazem uma coisa extremamente simples parecer fantasticamente complicada.

Todos nós sabemos o que distingue um bom empregador de um ruim. O bom fornece quatro coisas básicas. Primeiro, ele se certifica de que todos terão um trabalho adequado a fazer. Segundo, paga os funcionários de maneira justa. Terceiro, faz os empregados sentirem que seus esforços são reconhecidos. E quarto, os coloca para trabalhar com pessoas boas. Isso é tudo: não é preciso mais nada.

Felizmente, há uma maneira fácil de medir se uma companhia está sendo bem sucedida nessas coisas. Isso não envolve responder perguntas cansativas em longos formulários. Não exige nenhum exame dos benefícios ou políticas de responsabilidade social corporativa. Não há nada de subjetivo no teste.

Ele simplesmente avalia quanto tempo as pessoas permanecem numa companhia. Esta é a única consideração que importa. Qualquer um que não estiver satisfeito com seu emprego, em algum momento vai procurar outro. Se a maioria das pessoas fica por um longo período, automaticamente a companhia prova que é um bom lugar para se trabalhar.

Sugiro duas modificações nesse teste. A primeira é ignorar as saídas nos dois primeiros anos de serviço. Às vezes, pessoas que não deveriam ter sido contratadas são, e algumas têm formigas nas calças e vivem pulando de um lado para outro, não importa o quão decente é o empregador.

A outra modificação seria permitir apenas as saídas voluntárias. Qualquer companhia que responde a uma queda em seus negócios demitindo funcionários não é um bom lugar para se trabalhar. Desse modo, não entraria no ranking- não importa a quantidade de Botox ou Zumba que ela fornece aos funcionários que continuam na folha de pagamentos.

Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira

Fonte: MELHORES - valoronline.com.br - 07.02

Um comentário:

Leka disse...

Concordo com a Lucy. Botox? Jatinho? Troco por dignidade e ambiente saudável.

Hoje sou minha chefe e amo trabalhar comigo.

bjs.