A influenza A (H1N1), popularmente conhecida como gripe suína, já afeta o dia a dia das empresas brasileiras. Companhias como a Vale, a Unilever, a Natura, a Serasa e a Boehringer já anunciaram que ao menos um de seus funcionários apresentou casos confirmados. Outras empresas - como a Comgás - têm suspeitas da doença e ainda aguardam os resultados dos testes.Tanto as companhias que ainda não têm casos confirmados como as que já possuem têm adotado medidas para evitar a contaminação de mais trabalhadores. Em geral, as principais ações englobam a suspensão ou restrição de viagens ao exterior, o monitoramento do estado de saúde de quem viaja a trabalho e o afastamento temporário dos que tiveram contato com pessoas infectadas.Após um caso confirmado, a Unilever Brasil afastou temporariamente outras 24 pessoas que tiveram contato próximo com o empregado infectado. A companhia informa que tomou todas as medidas preventivas recomendadas pela vigilância sanitária e que desde a divulgação dos primeiros casos da gripe suína tem orientado internamente seu time sobre os cuidados necessários para a prevenção da doença.Além de reforçar a importância da higienização e esclarecimento dos sintomas, a Unilever criou um material específico com procedimentos indicados para viagens internacionais, além de colocar à disposição desses funcionários o serviço de saúde da empresa para monitoramento dos viajantes.Na Vale, cerca de 90 funcionários que tiveram contato com um prestador de serviços infectado após uma viagem à Argentina também foram afastados de suas atividades. Até o dia 29 de junho, eles permanecerão em casa, sob observação. As outras medidas adotadas foram higienização das instalações e do duto de ar condicionado dos locais de trabalho onde prestador esteve, a maior orientação aos demais funcionários e o acompanhamento dos empregados com destino e retorno de países considerados áreas de risco pela OMS. Também foram vetadas viagens para o México e reduzidos os deslocamentos para os demais países das Américas e a Austrália. Como alternativa, são usados aparelhos de teleconferências para reuniões entre equipes.Paralelamente, a Vale desenvolveu um plano de contingenciamento pandêmico para os diversos cenários da gripe suína, contemplando até mesmo a possibilidade de que vários empregados sejam infectados. O "centro de controle corporativo", que coordena esse plano, utiliza diversas ferramentas de rastreabilidade dos empregados que viajam ao exterior. Para evitar a proliferação da doença, a Natura, que tem dois casos confirmados e três sob suspeita, orientou os funcionários que trabalham no setor daqueles que foram infectados a procurar orientação médica e a permanecer em casa até que se descarte a contaminação. Os demais também receberam informações sobre a doença e seus sintomas.A Serasa formou um comitê de prevenção, que conta com a participação de médicos. Além de monitorar a gripe suína e estudar a melhor forma de agir, o comitê tem como objetivo conferir maior agilidade na tomada de decisões, proporcionando tranquilidade aos funcionários. Com a confirmação de cinco casos da doença na empresa, as viagens ao exterior foram suspensas. Antes disso, todos os funcionários que saíam do país a trabalho passavam por uma consulta antes e após a viagem. Hoje, 93 funcionários que tiveram contato com os infectados estão afastados para observação. Mas os trabalhos não foram prejudicados pelas medidas. Recursos como videoconferência e e-mail evitam que os projetos sejam paralisados.A Boehringer Ingelheim do Brasil – que, por ironia, atua no setor de saúde – afastou por sete dias 25 trabalhadores sem sintomas que tiveram contato mais prolongado com um funcionário vítima do primeiro caso de gripe H1N1 alocado na fábrica de Itapecerica da Serra (SP). Sua contaminação ocorreu durante uma viagem à Argentina. As medidas preventivas abrangem não apenas os funcionários da fábrica como também outros prestadores de serviços e fornecedores que estiveram nos mesmos locais que o funcionário infectado. A empresa diz que a produção e distribuição de medicamentos e o abastecimento do mercado seguem normalmente.Enquanto aguarda os resultados de dois casos suspeitos, a Comgás já põe em prática seu plano pandêmico.Em geral, os planos pandêmicos das empresas preveem: o monitoramento da evolução das epidemais no mundo, a pré-definição das pessoas que precisam permanecer na empresa e as que podem trabalhar de casa se houver contaminação, a orientação médica dos funcionários e a restrição das viagens a áreas de risco.Mesmo empresas que ainda não registraram nem casos suspeitos da doença também adotam precauções. O Itaú Unibanco, por exemplo, formou um comitê multidisciplinar para acompanhar a evolução da doença em todos os países nas quais possui negócios e que também é responsável por orientar seus funcionários sobre a doença. São enviados aos empregados boletins periódicos sobre as formas de contágio, os principais sintomas e as ações de prevenção, seguindo as recomendações do Ministério da Saúde. As mesmas informações também estão disponíveis na intranet.Um problema nacionalNo Brasil, a farmacêutica Roche, fabricante do Tamiflu, medicamento antiviral contra gripes como a suína, direcionou toda a produção do remédio para o governo, conforme determinação da Organização Mundial da Saúde. Segundo a empresa, a produção mundial do Tamiflu em 2009 será de 400 milhões de tratamentos.No Brasil, o Ministério da Saúde adquiriu 12.500 tratamentos do Tamiflu para uso imediato e outros 9 milhões estão em estoque. Segundo o órgão, todo paciente atendido pela rede de saúde com sintomas da doença é orientado a procurar um dos 53 centros de referência do ministério, espalhados pelo país. Nesses locais, é feita a coleta de material para os exames e o início do tratamento com administração do medicamento mesmo antes da confirmação da doença.Segundo o último comunicado do Ministério da Saúde, existiam 399 casos de gripe suína confirmados no Brasil e outros 310 sob suspeita. Até 24 de junho, 101 países tinham casos confirmados e divulgados da doença, de acordo com informações dos governos ou da OMS. No mundo, são 56.584 casos confirmados e 259 óbitos - nenhum no Brasil.O que dizem os especialistasSegundo a diretora de divulgação da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), Márcia Bandini, a experiência com a gripe aviária em 2005 (vírus H5N1) serviu de lição para que a OMS criasse diretrizes sobre as medidas a serem tomadas por governos e empresas a fim de conter eventuais pandemias. Em geral, elas são responsáveis pelo comprometimento de 20% da força de trabalho dos países afetados. “Desde então, a maior parte das grandes empresas do Brasil passou a adotar planos de contingência pandêmicos. Mas isso não significa que as pequenas e médias não possam se preparar também”, diz Márcia.Segundo a médica infectologista do Hospital das Clínicas, Maria Cláudia Stockler, além das medidas já adotadas pelas empresas, existem algumas ações adicionais que podem ser tomadas, como manter álcool gel para a limpeza das mãos em lugares acessíveis e manter janelas abertas para facilitar a circulação de ar.Uma vez constatado o caso, os funcionários que tiveram contato com o doente devem ficar em observação por dez dias. Isso porque, em adultos, o período de incubação costuma ser de sete dias. Caso apresente um dos sintomas, a pessoa deve procurar imediatamente um dos centros de referência do Ministério da Saúde. Os sintomas principais são febre acima de 37,5 ºC e tosse.Maria Cláudia alerta que o uso da máscara tem efeito limitado. A principal forma de contaminação é por gotículas que são expelidas ao falar, tossir e espirrar. Por isso, é recomendável lavar as mãos várias vezes ao dia com água e sabão ou álcool gel. Após usar o banheiro e antes de comer, é recomendável evitar tocar os olhos, o nariz ou a boca. Além disso, os especialistas afirmam que o melhor é usar lenço de papel descartável e nunca se automedicar. Em relação aos funcionários afastados pelas empresas que tiveram contato com doentes, Márcia ressalta que essas pessoas estão em isolamento domiciliar, mas não são consideradas inaptas para trabalhar. Ou seja, dependendo da atividade, o trabalho pode ser exercido em casa.
Por Gisele Cabrini e Francine De Lorenzo 26.06.2009 11h59
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